domingo, dezembro 31, 2006

Assim que saímos da casa de Lia, perguntei se ela não tinha um casaco, como não me respondesse, tirei minha jaqueta e pus sobre ela, mas não durou, assim que descemos na areia da praia, da casa à areia eram uns cinqüenta metros, ela me devolveu a jaqueta e perguntou se eu queria correr e saiu em disparada sem me esperar responder. Correu, correu e se cansou. A areia mata, ainda mais aquela, enterrava os pés. Quando parou, Lia olhou pro céu como quem faz uma prece ou se extravia num solilóquio, eu querendo que ela me pedisse a um santo qualquer, cogitasse fazer amor comigo a noite inteira. Lia lá na frente disse alguma coisa. Nada, não entendi uma palavra sequer, o meu nome, te amo ou trepada passaram longe dos lábios dela, isso eu sei. Continuei me aproximando de Lia, que linda menina, que menina gostosa!, uma voz de algodão-doce, bunda madurando; não poderia se dizer outra coisa que não gostosa, essa palavra que nasceu do juízo da boca, do paladar, e que se estendeu por tudo que é canto, até os mais sem sabor, mas aqui, na minha boca, recupera a origem, só pronunciar seu nome, Lia, Lia, me faz salivar, faz meus sentidos virarem boca, gostosa!, repito e repito. O que você disse?, questionei eu me aproximando, já pegando a mão de Lia. Eu disse que queria tomar um banho contigo, e sacou o vestido num tiro só, expondo a pele clara e arrepiada, coberta apenas por calcinha e sutiã. Lia era eu, Lia assim de calcinha e sutiã numa praia fria era eu décadas atrás, ainda moleque, quando irritado depois de perder uma disputa de pênaltis pra outro gurizinho, puxei o peru da sunga azul e mijei nele, no gurizinho, na cara, no corpo dele sentado, mijo, mijo mesmo, pode crer! Eu era Lia lá, nervoso, impulsivo mas inocente. Tirou o vestido, foi devagarzinho me sorrindo, andando de costas, na calcinha, no sutiã, foi devagarzinho pra água, agora sim um lolitismo escancarado.

sábado, dezembro 09, 2006

Ao fechar a porta da casa, pensei em convencer Lia a voltar pra dentro. Garoava e, apesar do novembro, estava frio. Eu 'tava de jaqueta, bem agasalhado, Lia não: sairia com o vestidinho hippie que deixava os ombros de fora. Na areia, a garoa, eu guarda-chuva, Lia pegou minha mão e puxou, quer correr?, perguntou saindo em disparada, esquenta!, garantiu berrando. Os cabelos encaracolados e molhados se sustentando no vento, o vestido ocre passando a um marrom pesadão por causa da chuvinha. Lia cem por hora. Longe, ouvi sua risada, parada, parada e me olhando e dizendo algo que eu não podia ouvir. Queria que ela dissesse que íamos embora, sair da chuva, da maresia, voltar pra sala e tomar um chá quente, botar algum vinil no toca-discos, um do Baden quem sabe, baixinho, e prestaríamos atenção unicamente nas nossas vozes, falando sem parar, a atenção nas nossas vozes conformando coisas sem importância, importava os nossos sons, só isso; ah, eu já podia ver naqueles lábios e dentes o cacoete lingüístico, um parasita remanescente da infância e puberdade em Buenos Aires, que tinha aquilo que me fazia gemer!, era Lia falando, até lembro, eu disse à Lia, quando nos conhecemos, que uma chupada sua devia ser algo estupendo, por conta daquele movimento de lábios e língua e dentes e tudo que o espanhol lhe treinara. Ela, Lia, lia e ria dessa minha tolice, devo chupar bem?! -- perguntava ela no chat. Eu, em seguida, vexado da barbárie a uma menina de dezenove, na época tinha dezenove, digitava desculpas e emendava outro assunto rapidinho, querendo reverter a situação. Não importa mais, ficou para trás. O que vale é este final de semana e as coisas que vão nos acontecer, quero ver, quero ver o que meu corpo vai dizer, haha, vou me mirar, acompanhar bem atento o que se passa nessas minhas idéias, ah, velho puto!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Chateando


O mundo virtual modifica a maneira de nos relacionarmos uns com os outros. E cria situações sociais próprias. Toma lá o MSN. Uma espécie de sala pessoal onde você decide quem entra ou não. Mas não só isso. Mesmo autorizado a estar de nick presente na sala de alguém, você pode ser ignorado. Coisa desconfortável se se pensa a situação em termos não-virtuais (uma sala bem real onde se avista um conhecido e nem ao menos se joga um olá).

Ao que parece, no MSN, há pelo menos 3 níveis de diálogo: o não-diálogo, esse onde os participantes apenas compartilham o ambiente, mas nem trocam ois; o diálogo-tolerado, em que os participantes não passam do small-talk (papo de elevador) e o fazem a grandes pausas, pois não têm o que dizer; e o diálogo propriamente, onde os chateadores estão realmente interessados no papo. Quem olhar com mais cuidado, deve achar outros níveis, mas largo eles por aqui, fica pra você aí detectar.

O MSN é um dispositivo que privilegia e desenvolve o individualismo: converso com quem, naquele instante, eu quero. É o Eu falando alto. O programinha dispõe de sinalizadores da situação do interlocutor (volto logo, ocupado, online, ausente...), mas ninguém dá bola, se o Eu quer falar com fulano, mesmo fulano sinalizando ‘ocupado’, fodXX-se, o Eu vai lá e chama fulano pro papo; se o fulano vai responder é outra história.

Ainda não me lameei totalmente no chat-eamento, não sei, por exemplo, como se faz pra não dar atenção ao oi piscando na barra ali de baixo (como é o nome da barra mesmo?). E isso é péssimo, porque quero atender todo mundo e no fim das contas, direito, não atendo ninguém, e os papos ficam superficiais e descontínuos, um chat chato. Mas estou me agilizando. Dia desses, uma colega disse assim “ora, quando não quero falar com a pessoa, vou lá e bloqueio, daí ela acha que eu não tô online”. Não pensei meia vez, click click click, dez bloqueios e mais tempo pra quem Eu quero.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Manias


Vocês já sabem, como todas as pessoas na beirada dos trinta, eu também me iniciei nas manias. Às vezes, até irrito alguns com isso. Normal, eu não esperava que fosse diferente. Irrito, por exemplo, quando digo que prefiro enfrentar os degraus a pegar a escada rolante, “exercícios, saúde!”, explico, não adianta. Mesmo sendo ‘bons vícios’, ninguém me entende, não dou bola. A mania mais recente é coletar informações relevantes on-line, assim aleatoriamente. Não se trata de sair atrás dos dados; é um livre-catar o que aparece pela frente, satisfazendo, claro, um critério de relevância. Assim, criei pastas no Word onde apenas colo os links e títulos das matérias que me aprazem. Tenho uma pasta para a saúde, outra para educação, criminalidade, desenvolvimento, sexualidade. Meu método é suave. Como todos vocês, leio jornais pela web, diariamente, e é neles que capturo as tais informações. Hoje, na Folha, apareceu algo interessante, “Divórcios disparam e aumenta índice de segundo casamento” (o link está abaixo, pra quem quiser), huumm, legal, catei e abri outra pastinha, intitulada “Relacionamentos”. Pra quê? Que pergunta cruel. Acho que, primeiro, pra satisfazer a mania, uma coisa muito séria, autônoma, eu diria. Segundo, por causa daquele espírito pueril de querer entender as coisas todas. Outro dia, um colega muito nobre, que já adentrou os trinta, observou que não coleciona manias. Não resisti, “não tem ou não enxerga as que tem?”.

Link da matéria aos interessados
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u128989.shtml