domingo, agosto 13, 2006

Frustrações-zinhas

Um dos garotos perguntou por que precisava ler diversos livros para fazer seu trabalho de conclusão da graduação. Afinal, defendia ele, já tinha sua própria idéia, já sabia o que queria e iria escrever e – daí o recurso no qual depositava toda confiança – se lesse vários autores, estes lhe poderiam desviar do que se havia proposto, talvez ele acabasse por tomar inconscientemente as idéias dos outros como suas. O outro garoto, sem medo de frustrar o colega, asseverou ser muito provável que qualquer tema sobre o qual pretendesse dissertar, já haveria uma enorme bibliografia, e esta esmiuçando o tema escolhido com tal competência que o colega nem poderia imaginar.

sábado, agosto 05, 2006

Participei de uma conversa interessante um tempo atrás. Éramos três. Um dos colegas, o da direita, disse ao da esquerda (posições geográficas):
- ...não sei como consegues! Eu me atrapalharia todo se fosse ler mais de um texto ao mesmo tempo. Confundiria os personagens se literatura, misturaria as teorias no caso de textos técnicos.
- Sempre fiz isso - retorquiu o da esquerda - e nunca tive problemas. E não julgo que eu tenha alguma capacidade sobrenatural. Aliás, pense da seguinte maneira: você deve fazer três refeições por dia, não? Então. Tu trocas as refeições? Almoça achando que é janta ou café da manhã?...
- Ahhhh! - corta o outro colega. Olha, lamento. Essa comparação não foi feliz e...
- Não me parece tão absurda a comparação - interrompi eu. Tenho ao menos dois apontamentos em defesa. Primeiro, que, numa perspectiva ampla, a leitura é apenas mais um modo de captação de informação. O que quero dizer com isso é que estamos o tempo todo a recolher dados do mundo externo, dos objetos, das pessoas, das situações do cotidiano. E fazemos isso das mais diferentes formas, através dos sentidos. Um cheiro, uma cor, uma forma qualquer, uma temperatura, um som, uma textura e todas as relações possíveis entre tais apreensões são modos de processarmos informação. A leitura é mais um...
- E daí?! – dispara o colega contrariado.
- Bom, daí que, sendo a leitura apenas mais um modo de apreendermos informação, se julgamos lícito dizer que podemos nos atrapalhar lendo mais de um texto em paralelo, seria também provável que nos confundíssemos com outras atividades do cotidiano, com outras apreensões. E, agora pensando... isso por vezes pode acontecer, não? Trocarmos situações é comum. Já ocorreu de eu estar conversando com uma pessoa e achar que já tinha falado algo a ela noutra ocasião, e continuar a conversa tomando como real o fato de que eu lhe tinha informado sobre uma coisa que na verdade não havia falado. De fato, caro (...), acho que nos confundimos às vezes, mas...
- Penso que tu (o colega da direita se referia a mim) levantaste dois pontos importantes, a apreensão geral das coisas, e colocando a leitura como uma das formas dessa apreensão, isso parece que está ok, acho que é uma boa saída. O segundo ponto que mencionaste, a confusão, também está correto, mas uma coisa é preciso ver. Confusão não é e não pode ser tida como fato natural. Se fosse natural nos confundirmos o tempo todo com os signos que nos chegam o mundo seria um caos. Não saberíamos distinguir as coisas todas umas das outras. Seria, num exemplo tosco, aquilo que falei antes. Eu poderia confundir meu almoço com o jantar, porque em ambos os casos eu estou comendo. Seria confundir meus pais ou parentes ou amigos pela própria condição deles de pais, parentes, amigos. O que quero dizer, e acho que vocês já me entenderam, é que confusão é normal até certo ponto. Alguém que se confunde o tempo todo não é tido como normal. E, retomando o caso da leitura...
- Que disparou nossa conversa... – disse eu.
- A questão da leitura, mas também das demais apreensões que fazemos diariamente, envolve, pelo menos penso deste modo, a idéia de contexto. Acho que são os contextos que nos ajudam a identificar o que é da alçada de um tema e o que é de outro. Exemplo: quando tomo café da manhã, há uma série de signos que me dizem que estou naquele contexto. A hora no meu relógio, o tipo de comida, talvez as pessoas com quem eu esteja naquele momento, o local onde estou, enfim, há uma série de dicas me alertando que estou no café da manhã. Com a leitura não me parece diferente. Seja texto técnico, seja literatura, acredito que há contextos envolvidos ali.
- Talvez caiba aqui falar de contextos internos e contextos externos – disse nosso colega da esquerda, que agora parecia já assimilar nossas idéias. Sim, porque no café da manhã eu estou pegando os signos de fora, daí que falo de externo, é o local, é a comida, etc. E na literatura estou pegando os signos internos, internos da obra, o contexto que a obra está formando a cada página. É, isso me soa sensato.
- É interessante tua colocação; essa coisa de interno, externo, (...) – disse o colega da direita. Mas não acho que na literatura se devam excluir os tais signos externos. A pessoa pode ler sempre à noite na faculdade algum texto técnico e antes de dormir, uma obra de literatura. Daí que é importante também essa distinção de contextos, seguindo a idéia de que os contextos nos auxiliam a não trocarmos uma informação por outra e assim nos orientam. Sacou?
- Meu segundo argumento de defesa ia nessa linha dos contextos... - disse eu.
- Saquei, saquei - respondeu o colega da esquerda.

quarta-feira, agosto 02, 2006

rapidinhas

Levamos um bom tempo na construção das generalizações mais simples e primitivas (as primeiras palavras, as primeiras teorias...). E pra ficarmos 'bão mesmo', o caminho é inverso. Ganha quem mais, nas horas certas, desmancha os conceitos e remonta-os em acordo com as situações únicas.