terça-feira, maio 30, 2006

A imagem distorcida nos metais do chuveiro traduzia o que eu sentia. Minha cara aqui, eu tateava e dizia: a mesma, mesma de sempre. Dizia com a boca cheia d'água, olhando o resultado no reflexo. Absurdo, uma careta se contorcia, debaixo um corpo cônico sem pés. Fora do prédio, frio e chovendo fino. Não vou fechar o registro, não tenho outra maneira de torrar este dia, vou consumir tudo aqui, com água quente, me abocanho se bater a fome. Nada de sair. Só vou responder a esse impulso da minha carne. Vou olhar o que se passa nas minhas idéias com essa água quente toda sobre elas. Se o medo que eu ver me der medo, se foda!, se da dor vier dor, o caralho! vou espiar tudo pelo reflexo no metal e apreciar e gostar do que vier. Não vou me bater, não vou pular, não hoje, vou apenas me olhar, pelo tato, pelo reflexo.