sábado, dezembro 09, 2006

Ao fechar a porta da casa, pensei em convencer Lia a voltar pra dentro. Garoava e, apesar do novembro, estava frio. Eu 'tava de jaqueta, bem agasalhado, Lia não: sairia com o vestidinho hippie que deixava os ombros de fora. Na areia, a garoa, eu guarda-chuva, Lia pegou minha mão e puxou, quer correr?, perguntou saindo em disparada, esquenta!, garantiu berrando. Os cabelos encaracolados e molhados se sustentando no vento, o vestido ocre passando a um marrom pesadão por causa da chuvinha. Lia cem por hora. Longe, ouvi sua risada, parada, parada e me olhando e dizendo algo que eu não podia ouvir. Queria que ela dissesse que íamos embora, sair da chuva, da maresia, voltar pra sala e tomar um chá quente, botar algum vinil no toca-discos, um do Baden quem sabe, baixinho, e prestaríamos atenção unicamente nas nossas vozes, falando sem parar, a atenção nas nossas vozes conformando coisas sem importância, importava os nossos sons, só isso; ah, eu já podia ver naqueles lábios e dentes o cacoete lingüístico, um parasita remanescente da infância e puberdade em Buenos Aires, que tinha aquilo que me fazia gemer!, era Lia falando, até lembro, eu disse à Lia, quando nos conhecemos, que uma chupada sua devia ser algo estupendo, por conta daquele movimento de lábios e língua e dentes e tudo que o espanhol lhe treinara. Ela, Lia, lia e ria dessa minha tolice, devo chupar bem?! -- perguntava ela no chat. Eu, em seguida, vexado da barbárie a uma menina de dezenove, na época tinha dezenove, digitava desculpas e emendava outro assunto rapidinho, querendo reverter a situação. Não importa mais, ficou para trás. O que vale é este final de semana e as coisas que vão nos acontecer, quero ver, quero ver o que meu corpo vai dizer, haha, vou me mirar, acompanhar bem atento o que se passa nessas minhas idéias, ah, velho puto!

1 Comments:

At quinta-feira, 21 dezembro, 2006, Blogger Bianca Melyna said...

Hey!
Saudades das suas safadezas literárias, rs.
Um beijo ensolarado.

 

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