sábado, abril 01, 2006

Circuito de Arte


Semana passada, ouvi um artista catarinense. Um dos pontos interessantes da fala foi a conceituação de ‘circuito’ de arte - espécie de âmbito onde a arte se manifesta. No circuito entrariam o artista, a obra, o público, o colecionador, a academia, instituições de arte-cultura, galerias de arte, museus, crítica especializada, materiais de divulgação, enfim, tudo aquilo que produz diretamente ou fomenta de algum modo o discurso artístico.

A idéia de circuito parece interessante quando está em cheque a maneira como se atribui valor a uma determinada obra ou exposição. A partir - do que - a obra é considerada pelo público como relevante, boa, desagradável, insignificante? Será apenas a partir do contato com a própria obra? Ou deveríamos considerar que no juízo de valor estão implícitos ao menos alguns dos integrantes do circuito (além da obra, claro)? Minha intenção é dizer que em nós, enquanto público, ao apreciarmos uma determinada obra, não estamos recebendo somente informações da obra em si (o quadro, a instalação, a escultura...). Mas no meio das nossas idéias, mesmo que de forma não consciente, estão vários discursos (circuito) que antecipam nosso contato com aquela arte e que podem condicionar nossa percepção. Nesta perspectiva, talvez, poder-se-ia até dizer que estes discursos são integrantes da própria obra: o circuito seria um ‘pedaço’ da obra. Daí que se o discurso for bom, a obra tende a obter bom resultado de público. Do contrário, sendo o discurso um adversário, há possibilidade da obra ser rejeitada e/ou cair no esquecimento. Não é difícil achar na História da Arte exemplos de artistas que tiveram que esperar pelas gerações futuras para ganhar reconhecimento do grande público. Esses artistas e suas obras não tiveram o circuito como aliado. O impressionismo, em seus primeiros tempos, é exemplo.