sexta-feira, março 03, 2006

Enquanto estávamos em cima do barco, perguntei à Lila por que tinha decidido me ligar convidando pra praia. Olhou a areia lá na frente, como se pensasse numa boa resposta e esclareceu que precisava sair um pouco da rotina, esquecer o filho, o trabalho e fugir o mais rápido possível do calor. E acrescentou que decidira vir sozinha, mas depois julgou que minha companhia tornaria a pequena fuga mais interessante. Pedi que me falasse do filho, Lila me olhou como que me interrogando do motivo daquela curiosidade e disse que voltássemos pra água antes que torrássemos ali. Concordei e num impulso pueril a empurrei do barco, saltando em seguida. Ao sairmos da água, Lila pediu que a puxasse, ela parecia exausta. Sentamos debaixo do guarda-sol e tive vontade de tomar cerveja. Peguei os trocados que tinha trazido e fui ao bar. Traga cigarros para mim, por favor, pediu Lila, e, espere, me deixe passar um pouco de protetor em ti. Ficamos frente a frente, Lila pingou o protetor em meu nariz e começou a espalhar sobre meu rosto; senti seu hálito limpo, suave, e fitei bem seus olhos, permaneciam serenos, investigando minha derme. Pensei os motivos que fariam Lila me trazer com ela, revi ela despistando com a estória de fugir da rotina. Mais de seis meses tinham passado desde a última vez que nos encontramos, por acaso no shopping, não tínhamos intimidade ou muito pouca, e ela me ligou, me ligou perguntando se eu não queria ir pra praia com ela. No bar, tomei uma latinha de cerveja bem rápido, eu gostava de ver chegando o pequeno entorpecer do álcool, comprei o cigarro de Lila e outra latinha para ela. Ao meu lado havia uma menina, dezoito, vinte anos, surpreendi-me quando, olhando a tanga cor-de-rosa, vi saindo uns pentelhos grandes. Na caminhada de volta ao guarda-sol, fiquei remexendo a tanga cor-de-rosa, nos pentelhos grandes, senti uma leve excitação, olhei o guarda-sol pequenininho lá na frente e uma lágrima começou a brotar, não tinha razão clara. Lila me olhava, eu podia distinguir sua posição, outra lágrima veio. Fiquei feliz por ter aquela sensação indiscernível e que me trouxe as duas lágrimas. Continuei caminhando, agora apreendendo tudo que me cercava: a temperatura da água, aspereza da areia, o vento no rosto, som das ondas, odor do mar, as vozes dissonantes com palavras soltas, o funk do bar. Na frente de Lila, sorri e lhe entreguei a cerveja e o maço de cigarros, deve estar um pouco quente, adverti soltando a latinha.

1 Comments:

At sexta-feira, 03 março, 2006, Blogger Ivana said...

Puxa... Cheguei a sentir a areia escorregando, miúda, por entre os dedos do meu pé... Caminhei contigo crente que, no caminho, havia um beijo na boca...

 

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